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Considerações sobre o filme "Barbie" (2023)

Ontem, assisti ao filme “Barbie”. Saí da sessão com o coração apertado.

Assistir a Barbie aqui na Europa foi uma experiência incrível, mas confesso que meu coração ficou dividido. Queria muito ter visto o filme no Brasil, ao lado das minhas sobrinhas, que são grandes fãs da boneca. Elas me lembram de quando eu era pequena e passava horas brincando de Barbie com minhas irmãs. Era como se criássemos nossos próprios mundos, cheios de sonhos e possibilidades. Agora, já crescidas, vejo minhas sobrinhas dando continuidade a essa tradição, brincando de 

Barbie juntas, do mesmo jeito que fazíamos anos atrás. É como se a magia da Barbie conectasse gerações, trazendo as mesmas emoções de forma atemporal.
Barbie sempre foi sinônimo de esperança. Na minha infância, ela era muito mais do que uma boneca. Ela era a médica, astronauta, bailarina ou chef de cozinha que nos mostrava que podíamos ser tudo o que sonhávamos. Mas ela também simbolizava algo maior: um mundo onde sonhar grande era permitido, sem que isso precisasse diminuir ninguém ao redor. Assistindo ao filme, algo dessa essência pareceu escapar.

Dirigido por Greta Gerwig, que também co-escreveu o roteiro ao lado de Noah Baumbach, o filme trouxe uma releitura ousada e reflexiva do ícone que marcou gerações. Greta, conhecida por sua habilidade em explorar a complexidade humana em obras como Lady Bird e Adoráveis Mulheres, transformou Barbie em algo muito além de uma boneca: ela virou uma plataforma para discutir questões sociais, culturais e emocionais.

A Barbie da nossa infância nunca precisou diminuir para brilhar.

Margot Robbie, que além de protagonista também produziu o filme através de sua empresa LuckyChap Entertainment, dá vida à Barbie com uma profundidade inesperada. Ao mesmo tempo, Ryan Gosling entrega uma performance cômica e trágica como Ken, mostrando o quanto sua identidade é definida – e limitada – pela relação com a Barbie.

Compreendo o objetivo do filme: abordar temas importantes como igualdade de gênero e o valor feminino. Essas pautas são essenciais. Mas será que precisávamos torná-las uma batalha, colocando os homens como antagonistas?
Barbie sempre foi um símbolo de inclusão e possibilidades infinitas. Naquele universo mágico, ela coexistia em harmonia com todos, inclusive o Ken. Não havia disputa, apenas a celebração de diferentes papéis.

No entanto, a representação do Ken no filme – perdido em um patriarcado caricato – trouxe um gosto amargo. Não por abordar questões relevantes, mas porque acredito que o verdadeiro empoderamento acontece quando caminhamos juntos, não em lados opostos.

Barbie sempre foi sobre possibilidades, não rivalidades.

O design de produção, liderado por Sarah Greenwood, recria Barbie Land com perfeição. Cada cenário é uma ode ao mundo das bonecas, das cores vibrantes aos detalhes nostálgicos. As escolhas visuais, que incluem figurinos assinados por Jacqueline Durran, intensificam a experiência, nos transportando para um universo que mistura fantasia e realidade.

A Barbie que conhecíamos nos ensinava que poderíamos ser quem quiséssemos, sem precisar competir ou rebaixar ninguém. Era sobre sonhar grande e inspirar.
O que senti falta no filme foi justamente essa leveza e esperança que sempre acompanham a Barbie. Ao focar em uma crítica quase exclusiva ao patriarcado, o filme parece ter perdido um pouco do que fazia da Barbie um ícone universal: a habilidade de unir e inspirar sonhos para todos, independentemente de gênero.

Esperança: o verdadeiro legado de Barbie.

A trilha sonora, supervisionada por Mark Ronson e destacada pela melodia de Billie Eilish, “What Was I Made For?”, é um dos pontos altos do filme. A música captura com precisão o conflito existencial da Barbie, ecoando perguntas que todos já fizemos: "Qual é o meu propósito? Para que fui criada?"
Barbie sempre representou a ideia de que qualquer um pode sonhar mais alto, criar algo maior e acreditar em possibilidades. Mas o filme, apesar de visualmente impecável, trouxe uma mensagem que, em vez de unir, dividiu.

Não precisamos transformar questões de gênero em batalhas. Não é necessário rebaixar um para exaltar outro. O verdadeiro progresso está em encontrar um equilíbrio, onde todos possam crescer juntos.
A Barbie da nossa infância sabia disso. Ela não precisava de grandes discursos ou “lacração” para ser gigante. Ela era gigante porque carregava consigo sonhos e um convite para imaginar um futuro onde todos cabem.

A Barbie que eu gostaria de ver no cinema.

Após assistir pensei: e se o filme resgatasse essa Barbie? Aquela que não se via como superior ou inferior, mas como uma figura de possibilidades infinitas?
Se o enredo trouxesse essa mensagem, talvez eu tivesse saído com o coração mais leve, com a mesma sensação de esperança que eu sentia ao brincar com minhas Barbies na infância.
No final, o que eu queria ver era uma história que nos lembrasse da força da união, do respeito mútuo e de que os sonhos não têm dono. Porque o que o mundo mais precisa agora não é de divisões, mas de histórias que nos inspirem a sonhar juntos.


A Barbie e o poder das mãos que criam memórias

Cresci na era da Barbie. Para mim e minhas irmãs, ela não era apenas uma boneca. Barbie era um universo inteiro – um mundo onde tudo era possível, onde nossos sonhos de infância ganhavam forma, cor e vida.

Lembro-me de como passávamos horas ao redor de nossas casinhas improvisadas. Não tínhamos a famosa "Dream House" que víamos nas propagandas – nossos pais, como muitos naquela época, não podiam nos dar um presente tão grandioso. Mas sabe de uma coisa? Hoje vejo que nossas "Dream Houses" eram ainda mais especiais. Porque elas nasceram das mãos e do coração das pessoas que mais nos amavam.

Meu tio Samuel, com sua habilidade e paciência, transformava madeira bruta em camas, sofás e armários para as nossas Barbies. Cada peça parecia saída de uma casa de verdade – com gavetas que abriam, portas que fechavam e almofadas perfeitamente costuradas. Aqueles móveis tinham um brilho especial, não só por causa do verniz, mas porque eram feitos com amor.

Minha mãe Helena , por sua vez, pegava tecidos que sobravam de seus trabalhos de costura e, com seu talento, criava roupas que eram verdadeiras obras de arte. Barbie nunca esteve tão na moda quanto naquela época! Tínhamos jaquetas, saias, vestidos e até jeans. Minha mãe nos ensinou a costurar, a imaginar, a criar – e, sem saber, ela também estava nos ensinando sobre o valor da dedicação e da criatividade.

A magia de brincar – e o que ela nos deu para a vida inteira

Nossas casinhas eram mais do que um lugar para nossas Barbies "morarem". Elas eram um refúgio mágico, um santuário de imaginação. Decorávamos cada detalhe: plantas, espelhos, até animais de estimação improvisados. Lá, criávamos histórias intermináveis, com enredos que, aos poucos, moldavam nosso pensamento crítico e nossa capacidade de resolver problemas.

É engraçado pensar nisso agora, mas aquelas horas em que passávamos brincando estavam nos preparando para a vida. Eu percebo isso claramente hoje. Durante minha adolescência e até na vida adulta, sempre assumi papéis de liderança nos grupos dos quais participei. Minhas irmãs também se tornaram líderes em suas áreas.

Uma de minhas irmãs a Rose , influenciada pelas roupas impecáveis que minha mãe criava para nós e para nossas Barbies, decidiu estudar moda. Ela começou aprendendo a costurar roupas para bonecas, observando os detalhes, construindo e experimentando – e descobriu sua paixão por essa área. 

Quanto a mim, acredito que minha facilidade para criar narrativas nasceu naquela época. Hoje, tenho mais de 20 histórias, contos e poemas originais registrados. Escrevi peças de teatro, atuei e até participei de apresentações artísticas na escola e na igreja. Todas essas experiências têm raízes profundas no ato de brincar.

Por que brincar é tão poderoso?

Não se tratava apenas de brincar com a Barbie. Era o ato de brincar em si. Era usar as mãos, os olhos e a mente para criar um universo com materiais reais, tangíveis. Era estabelecer regras entre irmãos e amigos, respeitá-las e trabalhar juntos para manter o jogo funcionando.

Brincar assim – de forma ativa e criativa – nos ensinou algo que as telas de hoje dificilmente ensinam: resiliência. Aprendemos a lidar com frustrações quando as coisas não saíam como planejado, a resolver conflitos quando discordávamos das regras e, acima de tudo, a imaginar mundos melhores.

Essas lições ficaram conosco. Elas nos ajudaram a crescer como adultos capazes, empáticos e criativos, prontos para enfrentar desafios com coragem.

A verdadeira "Dream House" está nas memórias que criamos

Hoje, olhando para trás, percebo que a "Dream House" que tantas crianças sonhavam em ter nunca foi o que mais importou. A nossa "Dream House" era feita de madeira, tecidos e muita imaginação. Era ali que aprendemos que não é o tamanho do presente que importa, mas o amor e a dedicação que estão por trás dele.

E, mais importante: percebemos que brincar não era apenas diversão. Era aprendizado, era crescimento, era o ato de criar laços que nos moldaram para sempre.

Então, se eu puder deixar uma mensagem para quem está lendo , é essa: nunca subestime o poder de brincar. Seja com uma Barbie, com carrinhos ou com qualquer outro brinquedo que desperte a imaginação. Porque o que as crianças aprendem nesses momentos vai muito além do que podemos ver. Elas aprendem a ser líderes, a sonhar, a criar e a enfrentar o mundo com esperança – exatamente como aquelas crianças que, um dia, brincavam em torno de suas "Dream Houses" improvisadas.




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