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Entendendo a Função Executiva

Entendendo a Função Executiva: A Maestria do Cérebro na Estruturação Cognitiva

O cérebro humano, uma maravilha de complexidade, constantemente desempenha uma infinidade de tarefas cognitivas e executivas que influenciam nosso dia a dia. Desde acordar e ajustar o despertador até planejar atividades diárias complexas, é a função executiva que atua como o maestro por trás de todas as nossas ações.

Situadas no lobo frontal, especialmente no córtex pré-frontal, as funções executivas podem ser comparadas ao "diretor executivo" do nosso sistema cognitivo, coordenando meticulosamente nossos pensamentos, ações e emoções. Elas são essenciais para estabelecer metas, planejar sua realização, adaptar-se a novas situações, controlar impulsos e emoções, e decidir com base em informações e discernimento.

Três Dimensões da Função Executiva:

Memória de Trabalho: Trata-se da habilidade de reter e manipular informações temporariamente, permitindo a realização de tarefas complexas, como raciocínio, aprendizagem e compreensão, facilitando a hierarquização, o foco e a conexão entre conceitos. A memória de trabalho atua como uma "lousa mental", onde a informação é temporariamente mantida e manipulada.

Flexibilidade Mental: Refere-se à capacidade de alternar entre diferentes tarefas ou ações, ajustando-se às mudanças e adaptando-se a novas situações. Reforça nossa capacidade de adaptação e pensamento inovador diante de desafios, ajustando-se conforme necessário. É uma habilidade vital para a resolução de problemas e para a adaptação a diferentes ambientes ou contextos.

Controle Inibitório: Centra-se na regulação do comportamento, atenção e emoções.  Envolve a habilidade de controlar impulsos e resistir a comportamentos automáticos, irrelevantes ou inadequados. Isso permite focar em uma tarefa, ignorar distrações e agir de acordo com as demandas situacionais.

1. Memória de Trabalho: A memória de trabalho é dependente do córtex pré-frontal. Sua evolução e as tarefas relacionadas a ela estão correlacionadas com a idade, principalmente durante a infância. Especificamente, o giro frontal médio esquerdo e o giro frontal inferior no córtex pré-frontal estão associados à memória de trabalho. O giro médio-frontal desempenha um papel no controle de comportamentos automáticos, respostas concorrentes e na gestão de emoções conflitantes. Além disso, o giro frontal médio direito está ligado à resposta de julgamento e à organização de atividades para alcançar objetivos específicos.

2. Flexibilidade Mental: A capacidade de mudar, adaptar-se e interagir com o ambiente é intrínseca ao córtex pré-frontal. Esta flexibilidade mental é crucial para produzir estratégias contra informações diversificadas. Estudos mostram que, ao mudar a atenção, indivíduos com quociente de inteligência (QI) médio exibem uma ativação elevada do córtex pré-frontal e do córtex cingulado anterior. Em contraste, aqueles com QI mais alto demonstram uma abordagem mais estratégica e uma ativação cerebral mais diversificada durante o feedback. O córtex pré-frontal também está associado à capacidade multitarefa e retenção de conhecimento, permitindo aos indivíduos navegar eficazmente em ambientes complexos e em constante mudança.

3. Controle Inibitório: O controle inibitório é frequentemente considerado o alicerce das funções executivas. Localizado no córtex pré-frontal anterior, esta região é essencial para moderar os impulsos, especialmente em crianças e adolescentes. Este controle de impulsos é predominantemente lateralizado no hemisfério direito e está conectado aos lobos parietais pelo córtex pré-frontal ventral. Além disso, áreas como o córtex orbitofrontal, córtex cingulado anterior, córtex parietal e temporal e o giro reto estão intrinsecamente envolvidos no controle do impulso. Estudos sugerem que transformações significativas no córtex pré-frontal e nas áreas conectadas afetam o controle dos impulsos durante a infância e adolescência.

Pilares das Funções Executivas:

  • Atenção: Fundamental para o sistema executivo, a atenção garante o aprendizado e orienta a interação com o ambiente desde o nascimento. À medida que a criança cresce, a capacidade de formar representações a partir de informações ambientais intensifica-se, otimizando a adaptação e aprendizagem.
  • Regulação Comportamental e Emocional: Ao longo da infância, a autorregulação se desenvolve e se transforma. Influenciada pelos cuidados parentais, a criança começa a personalizar suas reações e comportamentos. Com o tempo, funções executivas mais sofisticadas emergem, com a memória atuando como suporte para seu desenvolvimento.
  • Planejamento e Organização: Capacidade de estabelecer metas, criar etapas para alcançá-las e priorizar ações com base em sua relevância. É uma habilidade essencial para a realização de tarefas que necessitam de uma sequência de ações.
  • Monitoramento e Autoavaliação: Refere-se à capacidade de monitorar, avaliar e, se necessário, corrigir o próprio desempenho em uma tarefa ou ação. Isso permite a autorreflexão e ajustes contínuos em comportamentos e decisões.

As funções executivas são habilidades cognitivas centrais que orientam nossos pensamentos, emoções e comportamentos, impactando diretamente o desenvolvimento, o desempenho acadêmico, a saúde e a adaptação social. O bom funcionamento dessas funções está associado a desempenhos melhores em áreas sociais, emocionais e acadêmicas. Em contrapartida, deficiências nesse aspecto são vistas em distúrbios como TDAH, TOC,TEA,  distúrbios de aprendizagem e outros.

Desenvolvimento e Intervenção:

O fortalecimento das funções executivas é uma jornada contínua que se entrelaça com múltiplos fatores, desde o estresse diário até a qualidade das interações entre pais e filhos. De acordo com Diamond e Lee (2011), "As funções executivas podem ser melhoradas em qualquer idade, desde o período infantil até a idade adulta, por meio de treinamentos e práticas específicas". 

Nesse contexto, intervenções estruturadas, como programas de treinamento dedicados, surgem como potentes ferramentas que catalisam mudanças positivas nas estruturas e funções cerebrais. 

Além disso, atividades integrativas como yoga, música, dança e meditação emergem como poderosos aliados no fortalecimento dessas funções vitais. Particularmente para crianças em fase de crescimento, jogos de faz-de-conta e atividades imaginativas são essenciais, fornecendo um terreno fértil para a prática e refinamento contínuos das habilidades executivas.

Contudo, enquanto focamos no fortalecimento, é vital estar alerta para a disfunção executiva. A identificação precoce dessas disfunções pode proporcionar um suporte mais eficaz, garantindo que as intervenções sejam implementadas no momento oportuno e sejam realmente benéficas.

Em síntese , As funções executivas do cérebro são os pilares que sustentam a capacidade de um indivíduo de interagir, aprender e adaptar-se ao ambiente circundante. Estas habilidades essenciais, que englobam atenção, regulação comportamental e emocional, entre outras, desempenham um papel fundamental no sucesso acadêmico e social de uma criança. A interação entre essas funções e as experiências vividas, sobretudo no ambiente educacional, é vital para a formação de um aprendizado robusto e uma vida adulta bem-sucedida. À medida que compreendemos melhor a importância das funções executivas, torna-se imperativo focar em estratégias pedagógicas e intervencionistas que não apenas reconheçam, mas também potencializem essas capacidades. Assim, asseguramos um caminho mais firme para o crescimento holístico, bem-estar e sucesso contínuo de nossas crianças na era contemporânea.

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Notas finais :

Akyurek, G. (2018). Executive Functions and Neurology in Children and Adolescents. IntechOpen. doi: 10.5772/intechopen.78312.

Diamond, A., & Lee, K. (2011). Interventions shown to aid executive function development in children 4 to 12 years old. Science, 333(6045), 959-964.

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