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Disfunção executiva

Disfunção executiva : Abordagens e Estratégias

A disfunção executiva é uma condição que impacta as habilidades mentais necessárias para planejar, organizar e concluir tarefas. As repercussões dessa disfunção podem afetar significativamente o desempenho acadêmico e social das crianças, tornando essencial uma abordagem holística e interdisciplinar para avaliação e intervenção.

Quanto à reversibilidade, isso depende da causa da disfunção. Se for devido a uma condição neurológica progressiva, pode não ser reversível. No entanto, em muitos casos, especialmente em crianças e adolescentes, as intervenções apropriadas, como terapias comportamentais, estratégias de ensino adaptadas e, em alguns casos, medicamentos, podem ajudar a melhorar ou compensar as dificuldades associadas à disfunção executiva. Mesmo em adultos, estratégias e intervenções apropriadas podem ajudar a gerenciar ou mitigar os sintomas.

As funções executivas não são habilidades isoladas; elas são intrincadamente conectadas a outras funções cognitivas. Quando uma área cognitiva é comprometida, pode haver um efeito cascata, influenciando a capacidade de uma criança de realizar tarefas que envolvam funções executivas. Portanto, é essencial considerar o quadro geral quando se avalia ou se intervém em desafios associados às funções executivas.

Avaliação da Disfunção Executiva: 

Natureza Complexa da Avaliação: As funções executivas, que incluem habilidades como planejamento, organização, controle inibitório e flexibilidade mental, não operam isoladamente. Elas estão profundamente entrelaçadas com outras funções cognitivas, como memória e atenção. Isso significa que um déficit aparente nas funções executivas pode ser influenciado ou até causado por problemas em outra área cognitiva.9

Importância do Ambiente: O desempenho das funções executivas pode ser influenciado pelo ambiente em que a criança se encontra. Por exemplo, uma criança pode ter dificuldade em se concentrar em um ambiente ruidoso ou caótico, mas pode funcionar bem em um ambiente calmo e estruturado.6

Grupos de Comparação: Quando avaliamos funções executivas, é crucial ter um grupo de comparação para entender se a performance de uma criança é típica para sua idade, gênero e nível educacional. O desenvolvimento das funções executivas varia com a idade, e pode haver diferenças sutis entre gêneros e contextos educacionais.1

Influência de Fatores Externos: O desempenho nas funções executivas pode ser afetado por fatores externos como fadiga, fome e estresse. Por exemplo, uma criança com fome pode ter problemas de concentração, e um nível elevado de estresse pode afetar a capacidade de tomada de decisão.5

Testes Recomendados: 

Estes são apenas alguns exemplos. Há uma variedade de instrumentos desenvolvidos especificamente para avaliar as funções executivas. É essencial que tais instrumentos sejam aplicados por profissionais qualificados, e que se observe rigorosamente as normas éticas e jurídicas associadas.11

Bateria de Avaliação da Função Executiva (BRIEF): Avalia a função executiva em contextos cotidianos.

Teste de Classificação de Cartas de Wisconsin (WCST): Avalia a flexibilidade cognitiva e a capacidade de mudar estratégias em resposta a mudanças de estímulo.

Teste de Torre de Londres (TOL): Avalia as habilidades de planejamento e resolução de problemas.

Estes são apenas alguns exemplos de testes voltados para crianças. No entanto, existem muitos outros testes adequados para diferentes faixas etárias, incluindo alguns específicos para adultos e outros que estão disponíveis apenas no exterior.

Nota Importante: Antes de usar qualquer teste no Brasil, consulte o Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos para garantir a conformidade ética e legal.

Estratégias de Intervenções no Ambiente Escolar 

Com a evolução da pedagogia e o surgimento de novas tecnologias, as escolas começaram a incorporar uma variedade de metodologias ativas e espaços inovadores, como laboratórios makers e salas interativas, para potencializar o aprendizado. Neste contexto modernizado, as funções executivas são potencializadas, as estratégias para abordá-las precisam ser adaptadas para se alinhar a essas novas abordagens de ensino.

Laboratórios Makers e Aulas Práticas: Criar projetos práticos onde os alunos possam planejar, executar e revisar suas criações, auxiliando no desenvolvimento de habilidades de planejamento, organização e autoavaliação.

Competências Digitais: Integração de ferramentas digitais que ajudem os alunos a organizar suas tarefas, como aplicativos de gerenciamento de projetos ou plataformas educativas interativas. Além disso, cursos de alfabetização digital podem ajudar os alunos a desenvolver habilidades essenciais de atenção e foco em ambientes online.

Metodologias Ativas: Utilização de abordagens como aprendizado baseado em projetos ou problemas, onde os alunos são incentivados a tomar a iniciativa de seu aprendizado, desenvolvendo assim habilidades de autogestão, tomada de decisão e resolução de problemas.

Acomodações Específicas: Embora estratégias como sentar o aluno na frente da sala ou fornecer instruções escritas ainda sejam válidas, pode-se também considerar a utilização de tecnologias assistivas ou plataformas educacionais personalizadas para atender às necessidades individuais de cada aluno.2

Fortalecendo Habilidades Executivas em Casa 

O ambiente doméstico é um espaço vital para desenvolver e reforçar as funções executivas das crianças. Através de práticas diárias, os pais e cuidadores têm a oportunidade única de criar uma base sólida que pode prevenir ou minimizar desafios futuros relacionados à disfunção executiva.

Rotinas Estruturadas: Estabelecer e manter rotinas diárias ajuda as crianças a desenvolver habilidades de planejamento e previsibilidade. Por exemplo, designar um horário fixo para deveres de casa, descanso e brincadeiras.

Ferramentas Visuais: Utilizar planejadores visuais, como calendários coloridos, quadros de atividades com ímãs ou gráficos de recompensa. Isso não apenas ajuda na organização, mas também no reconhecimento de sequências e na antecipação de eventos futuros.

Jogos Educativos: Jogos que requerem planejamento estratégico, memória e atenção, como quebra-cabeças, jogos de tabuleiro ou aplicativos educativos, podem ser introduzidos nas atividades recreativas.

Momentos de Reflexão: Encoraje conversas sobre o dia, permitindo que a criança reflita sobre suas atividades, o que deu certo, o que poderia ter sido feito de forma diferente e planeje para o dia seguinte.

Modelagem de Comportamento: Os pais podem atuar como modelos, demonstrando organização, regulação emocional e tomada de decisão. Por exemplo, ao enfrentar uma decisão, verbalizar o processo de pensamento pode oferecer à criança um modelo interno de como ponderar opções.

Reforço Positivo: Em vez de focar apenas em recompensas tangíveis, como tempo extra de jogo, considere recompensas intangíveis, como elogios e reconhecimento, para fortalecer comportamentos desejados.8

Recursos Externos 

Na era digital, as ferramentas tecnológicas desempenham um papel essencial em apoiar as funções executivas das crianças. Estas ferramentas, muitas vezes intuitivas e interativas, oferecem métodos inovadores para auxiliar no desenvolvimento de habilidades de organização, gerenciamento de tempo e tomada de decisões.15

Aplicativos de Produtividade: Aplicativos como "Todoist" ou "Microsoft To Do" permitem que as crianças criem listas de tarefas, definam prioridades e estabeleçam lembretes.

Tecnologias de Assistentes Virtuais: Dispositivos como Amazon Echo ou Google Nest, com assistentes virtuais como Alexa ou Google Assistant, podem ser programados para fornecer lembretes vocais para tarefas, como estudo ou hora de dormir.

Aplicativos Educacionais: Plataformas como "Khan Academy Kids" ou "Duolingo" incorporam gamificação e sistemas de recompensa, incentivando a aprendizagem auto-dirigida e a gestão do tempo.

Plataformas de Gerenciamento de Aprendizado: Ferramentas como "Google Classroom" ou "Seesaw" ajudam as crianças a manter-se organizadas com suas tarefas escolares, oferecendo um espaço centralizado para recursos e prazos.

Wearables: Dispositivos vestíveis, como relógios inteligentes, podem ser programados com alarmes vibratórios para lembrar discretamente as crianças de transições ou tarefas importantes.

Apoio Especializado: Profissionais como psicopedagogos e psicólogos são essenciais para avaliação e intervenção.

Fortalecendo Funções Executivas 

Construindo Relações Positivas: "A qualidade das interações iniciais na vida de uma criança serve como base para o desenvolvimento futuro das funções executivas" (Diamond, 2014)10. Ter relacionamentos sólidos e confiáveis promove um ambiente seguro para a aprendizagem e desenvolvimento cognitivo.

Modelagem e Orientação: As crianças aprendem observando e imitando. "O ato de observar comportamentos desejáveis de modelos significativos, como pais ou professores, facilita a aquisição de habilidades executivas" (Zelazo et al., 2016)15.

Ambiente Organizado e Estruturado: Ambientes bem estruturados proporcionam oportunidades consistentes para prática e reforço. "Um ambiente previsível e estruturado suporta o desenvolvimento das funções executivas ao reduzir a carga cognitiva" (Best & Miller, 2010)4.

Uso de Jogos e Atividades: Jogos estruturados que desafiam a memória, o controle inibitório e a flexibilidade mental podem acelerar o desenvolvimento das funções executivas7.

Integração de Tecnologia: A tecnologia oferece ferramentas intuitivas que podem ser customizadas para atender às necessidades individuais. "Aplicativos e plataformas digitais são eficazes em fornecer feedback imediato e adaptar-se ao ritmo de aprendizagem do usuário, promovendo o desenvolvimento de funções executivas" (Bernier et al., 2010)3.

Envolvimento dos Pais: O engajamento ativo dos pais no processo educacional da criança reforça a aprendizagem e consolida habilidades executivas13.

Grupos de Apoio: A interação com os pares e a troca de estratégias em grupos de apoio podem fortalecer a autoeficácia e promover abordagens inovadoras para desafios comuns .12

 Recapitulando 

A identificação e abordagem corretas da disfunção executiva são essenciais para assegurar que as crianças não apenas enfrentem seus desafios, mas também floresçam, alcançando todo o seu potencial. Armados com estratégias eficazes e uma colaboração sinérgica entre profissionais da saúde, educadores e pais, temos as ferramentas para transformar os obstáculos associados à disfunção executiva em oportunidades, pavimentando o caminho para o sucesso duradouro de cada criança. Essa jornada, embora desafiadora, pode ser enriquecedora, uma vez que permite que crianças desenvolvam resiliência, adaptabilidade e uma ampla gama de habilidades que serão inestimáveis em sua vida adulta. A união de todos os envolvidos - desde especialistas até entes queridos - em prol de um objetivo comum, pode resultar em histórias de superação e crescimento que servem de inspiração e esperança para muitos. Ao investir nas abordagens certas hoje, estamos construindo uma fundação sólida para o futuro brilhante das gerações vindouras.

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Notas finais : 

  1. Anderson, P. (2002). Assessment and development of executive function (EF) during childhood. Child neuropsychology, 8(2), 71-82.
  2. Bacich, L., Moran, J., & Nussbaum, M. (2018). Aprendizagem baseada em projetos: Educação além da transmissão cultural.
  3. Bernier, A., Carlson, S. M., & Whipple, N. (2010). From external regulation to self‐regulation: Early parenting precursors of young children’s executive functioning. Child development, 81(1), 326-339.
  4. Best, J. R., & Miller, P. H. (2010). A developmental perspective on executive function. Child development, 81(6), 1641-1660.
  5. Best, J. R., Miller, P. H., & Jones, L. L. (2009). Executive functions after age 5: Changes and correlates. Developmental review, 29(3), 180-200.
  6. Blair, C. (2016). Executive function and early childhood education. Current opinion in behavioral sciences, 10, 102-107.
  7. Blair, C., & Razza, R. P. (2007). Relating effortful control, executive function, and false belief understanding to emerging math and literacy ability in kindergarten. Child development, 78(2), 647-663.
  8. Dawson, P., & Guare, R. (2018). Smart but scattered: The revolutionary "executive skills" approach to helping kids reach their potential. Guilford Publications.
  9. Diamond, A. (2013). Executive functions. Annual review of psychology, 64, 135-168.
  10. Diamond, A. (2014). Want to optimize executive functions and academic outcomes? Science, 333(6045), 959-964.
  11. Miyake, A., Friedman, N. P., Emerson, M. J., Witzki, A. H., Howerter, A., & Wager, T. D. (2000). The unity and diversity of executive functions and their contributions to complex “frontal lobe” tasks: A latent variable analysis. Cognitive psychology, 41(1), 49-100.
  12. Raver, C. C. (2012). Low-income children’s self-regulation in the classroom: Scientific inquiry for social change. American Psychologist, 67(8), 681.
  13. Sheridan, S. M., Knoche, L. L., Edwards, C. P., Bovaird, J. A., & Kupzyk, K. A. (2010). Parent engagement and school readiness: Effects of the Getting Ready intervention on preschool children’s social-emotional competencies. Early education and development, 21(1), 125-156.
  14. Zelazo, P. D., Blair, C. B., & Willoughby, M. T. (2016). Executive Function: Implications for Education. National Center for Education Research.
  15. Zelazo, P. D., Blair, C. B., & Willoughby, M. T. (2016). Executive Function: Implications for Education (NCER 2017-2000). Washington, DC: National Center for Education Research, Institute of Education Sciences, U.S. Department of Education.

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