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Dia das mães

Dia das mães foi substituído pelo dia da família                

Você já parou para pensar sobre a substituição das comemorações do Dia das Mães e do Dia dos Pais pelo Dia da Família em algumas escolas? Essa mudança, adotada com o intuito de promover maior inclusão e reconhecer as diferentes configurações familiares, pode parecer uma solução positiva à primeira vista. Afinal, em um mundo onde nem todas as crianças têm a presença de um pai, uma mãe, ou ambos, o Dia da Família surge como uma alternativa que visa a evitar sofrimentos.

Mas será que essa mudança realmente resolve o problema? O que está em jogo aqui é mais do que apenas uma troca de datas no calendário escolar. A ideia de que "longe dos olhos, longe do coração" pode parecer confortante, mas não enfrentar a realidade não elimina a dor. Pode até criar uma ilusão de alívio, mas será que isso ajuda no amadurecimento emocional?

Outro ponto importante é a justificativa de que o Dia da Família seria mais democrático e inclusivo, especialmente para crianças de casais do mesmo sexo. A intenção é nobre, mas será que tratar todas as configurações familiares de forma homogênea realmente promove a inclusão? Ou, ao ignorar as diferenças, podemos estar, sem querer, reforçando preconceitos e dando espaço para o bullying?

Na neuropsicologia, aprendemos que a neuroplasticidade nos ajuda a lidar melhor com situações adversas. Quando poupamos as crianças de confrontos, impedimos que elas cresçam emocionalmente e aprendam a lidar com conflitos. Cada família possui sua singularidade, e é essencial valorizar e respeitar essas diferenças. O psicanalista Wilfred Bion afirmou que o desenvolvimento mental saudável depende da verdade, assim como dependemos da comida. Com isso em mente, é importante considerar que o Dia da Família não precisa substituir o Dia das Mães e o Dia dos Pais, pois cada uma dessas datas tem seu valor na construção de laços familiares e no desenvolvimento emocional das crianças. Enfrentar as realidades, mesmo as mais difíceis, é fundamental para promover um amadurecimento emocional genuíno e saudável. Portanto, em vez de evitar o confronto com as realidades familiares, devemos acolhê-las e ensinar nossas crianças a fazer o mesmo.

A sociedade contemporânea tem testemunhado uma desconstrução profunda da figura feminina, onde narrativas confusas têm levado muitas mulheres a perderem a clareza sobre sua identidade. Nesse processo, a essência do que é ser mulher, mãe e esposa está sendo diluída, resultando em uma confusão entre ser, fazer e ter. Em meio à busca incessante por sucesso profissional, algumas mulheres acabam se distanciando de seus papéis maternos, chegando ao ponto de competir em jovialidade com suas próprias filhas e, muitas vezes, negligenciando o desenvolvimento afetivo e intelectual delas. A verdadeira essência de ser mãe, no entanto, vai muito além dessas disputas e das pressões externas; ela reside na entrega amorosa, na presença atenta e no cuidado que nutre, educa e guia os filhos, mantendo viva a conexão emocional e a transmissão de valores que são fundamentais para o desenvolvimento integral da criança.

Dentro desse contexto de desconstrução da figura feminina e da confusão identitária, as ideias de Zygmunt Bauman sobre a "vida líquida" se mostram particularmente relevantes. Bauman argumenta que vivemos em uma sociedade marcada pelo individualismo exacerbado, onde tudo é temporal e instável, carecendo de solidez. Essa "liquidez" se reflete nas relações interpessoais, que se tornaram cada vez mais efêmeras e voláteis, e impacta diretamente a maneira como as mulheres veem e exercem seus papéis culturais. Em um mundo onde as conexões são superficiais e o foco está no sucesso pessoal e na satisfação imediata, a essência do que significa ser mãe, mulher e esposa é frequentemente relegada a segundo plano. As relações familiares, que deveriam ser alicerces sólidos, acabam por se desintegrar, deixando um vazio onde antes havia sentido e propósito. A liquidez da vida moderna, com sua falta de permanência e compromisso, contribui para essa crise de identidade, tornando mais difícil para muitas mulheres manterem uma conexão profunda com seus papéis e com a verdadeira essência de ser mãe.

MATRIZ DE VALOR HUMANO


A matriz de valor humano é composta por três níveis essenciais: a identidade (quem eu sou), a capacidade (o que eu faço), e o merecimento (o que eu tenho). Ser mãe, por exemplo, transcende os dois últimos níveis e toca diretamente na identidade.

Uma mulher pode alcançar merecimentos como ter um negócio próprio, ou capacidades como obter um diploma, mas ser mãe é uma definição de quem ela é. Mesmo que uma gravidez não resulte em filhos, como no caso de um aborto ou uma gravidez molar, no seu histórico médico sempre estará a informação de que ela já teve uma ou mais gravidez. Isso ilustra como o papel materno é inabalável, seja qual for a circunstância—mãe de anjo, mãe que viu seu filho partir, ou mesmo mãe que tomou decisões difíceis e abandonou o filho, a identidade de mãe permanece.

O Dia das Mães é uma ocasião para celebrar essa figura singular na sociedade, cujo valor não pode ser banalizado. Se em algum momento da sua vida você foi rejeitada ou sofreu com a disciplina de sua mãe, não permita que isso a impeça de exercer sua maternidade. Aprenda a liberar perdão, a deixar o passado no passado, e a se permitir construir uma família estruturada. 

A identidade de ser mãe não deve ser ofuscada pelo que você é capaz de fazer ou pelo que possui. E se algum problema de saúde impede a maternidade biológica, a maternidade do coração é igualmente válida e poderosa. Caso você precise de ajuda para encontrar sua identidade e separar essas camadas para viver uma vida plena, procure o apoio de um psicólogo ou life coach. Permita-se a oportunidade de construir uma família linda. 

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